sábado, 17 de novembro de 2007

Diálogo com Lage, Chaparro, Martins e Freire

Professora de jornalismo há dez anos – recém-completados – todos os dias me faço a mesma pergunta: neste universo complexo das comunicações, e de constantes mudanças tecnológicas, que profissionais devo formar? Responsável pelo laboratório do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, eu olho para os jovens alunos e me repito a pergunta. Não há angústia.

No dia 12 deste mês de novembro tive a oportunidade de compartilhar a dúvida com dois mestres. Os professores Nilson Lage e Carlos Chaparro estiveram em Brasília no XII Seminário de Comunicação Banco do Brasil, que nesta edição discutiu O futuro da Comunicação.

Doutor em Lingüística e Mestre em Comunicação, jornalista desde 1957, Lage atuou em jornais e assessorias de imprensa. Aposentou-se recentemente – mas não se afastou – da docência na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Também lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bibliografia obrigatória sobre técnicas da produção jornalística, participou como palestrante na abertura do seminário, com o tema Os novos desafios da Comunicação.

Jornalista desde 1956,e formado em jornalismo desde 1982, Chaparro tornou-se professor da Universidade de São Paulo em 1984. Está aposentado como livre docente desde 2001. Português que chegou ao Brasil em 1961, escreveu livros sobre jornalismo – de aquém e de além mar – e é co-autor do livro-reportagem Padre Romano, profeta da libertação operária. Quatro vezes premiado com o Esso, trabalhou em jornais e em assessorias de imprensa. Atuou como mediador nos três dias de encontro, realizado no prédio de arquitetura sofisticada do Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília.

A pergunta foi feita ao final da palestra de Lage, uma aula importante, um mapa fundamental para localizar as discussões dos dois dias que se seguiram no Seminário. Foi dirigida também a Chaparro, o mediador. Numa primeira leitura das respostas apresentadas, a sensação é de que defendiam conceitos opostos, caminhos completamente diferentes, para garantir a boa formação para os profissionais.

Professor Lage:

- É preciso formar jornalistas, e não, analistas do mundo. Eles precisam dominar as técnicas, ter habilidade. Ter grande informação sobre a realidade – e o que está por trás dela – para se adaptar às mudanças. Há uma visão de que o jornalista é antropólogo, é sociólogo. Não é. A crítica profissional é diferente. Também é preciso conhecer bastante de discurso. As palavras têm vida, são instrumentos de um código. Cursos devem ter um conteúdo crítico. Devem ter o entendimento da retórica. Mas, é essencial que se dominem as técnicas, táticas. Com alguma teoria e muito ceticismo. Não suporto jornalista militante.

Professor Chaparro:

- As artes do ofício são fáceis de aprender. A grande dificuldade que tive não foram com as técnicas, mas com a capacidade de lidar com os conteúdos. A complicação da notícia está nas causas e nos efeitos. O jornalista precisa de formação multidisciplinar, intelectual. Deveria olhar o mundo na complexidade da profissão. Há jornalistas construindo espaços próprios, como blogs. Nada se faz que não seja para ser notícia. O jornalista deve ser um sujeito capaz de entender o mundo e explicá-lo. É difícil entender o ofício em tempos de informação em tempo real. O jornalista praticamente não tem o que fazer, grava o que a fonte diz e põe no ar. São tempos novos. Há necessidade de jornais e jornalistas entender que função é elucidar, não apenas informar. As artes do ofício exigem capacidade em lidar com este mundo em que os embates são discursivos. Espaço e linguagem, dos quais se exige confiabilidade. Ética é essencial na formação profissional.

Embora tenha iniciado a resposta firmando discordância sobre a importância das técnicas, o professor Chaparro nos lembra que jornalismo é ofício. Ainda que afirmasse a necessidade essencial da técnica, o professor Lage cobrou conteúdo crítico. Em ambos, a certeza da importância da palavra, da retórica, do discurso. Tanto para o dizer, quanto para o compreender o mundo e as relações entre os seres – e coisas – no mundo. Nas duas respostas, o reconhecimento do papel da técnica. A diferença ficou na ênfase.

Veio à minha memória a primeira resposta que recebi a esta pergunta fundadora. Veio em forma de um artigo, solicitado pelos alunos do jornal Campus ao professor Luiz Martins, doutor em sociologia e mestre em Comunicação. Jornalista e professor, pesquisador na área de jornalismo e sociedade, Martins, que durante anos respondeu por esta cadeira em nossa Faculdade de Comunicação, mandou um artigo curto, que poderia ser resumido à decomposição da palavra laboratório, feita com maestria:

- Ora e labora. Reflete e trabalha.

Mesmo a técnica deve ser vista com olhar crítico, pensada, repensada, minuciosamente examinada, modificada, readequada. Tem que ser tão profundamente entendida, e absorvida, de modo a que o exercício seja da crítica, da compreensão da palavra, dos gestos, dos manifestos, e do que não se mostra. As respostas se me apresentaram como diálogos. Corri ao livrinho de capa surrada – Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire[1] – e encontrei uma complementação. Justamente no trecho intitulado: Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Neste trecho do livro Freire defende que no ensinar deve estar presente a disponibilidade à vida, alerta para a importância do diálogo.

- O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História.

E encontrei em Freire, reconhecido no mundo pelo trabalho na área da Pedagogia, a orientação aos professores – de ensino fundamental, mesmo – para lidar com a comunicação. Creio que deve ser lida com duplo apuro por profissionais e aspirantes à profissão de jornalismo:

- Não temo parecer ingênuo ao insistir não ser possível pensar sequer em televisão sem ter em mente a questão da consciência crítica. É que pensar em televisão ou na mídia em geral nos põe o problema da comunicação, processo impossível de ser neutro. Na verdade, toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que joga a ideologia na comunicação, ocultando verdades mas também a própria ideologização no processo comunicativo. Seria uma santa ingenuidade esperar de uma emissora de televisão do grupo do poder dominante que, noticiando uma greve de metalúrgicos dissesse que seu comentário se funda nos interesses patronais. Pelo contrário, seu discurso se esforçaria para convencer que sua análise da greve leva em consideração os interesses da nação.

Ora e labora, aprende as técnicas, apreende o mundo. Complexo. Fascinante.



[1] In Pedagogia da Autonomia, saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, 1999. R$ 5,00.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Consuni aprova cursos de licenciatura à distância e discute poucos recursos da UnB

Poucos recursos para HUB e RU

O reitor Timothy Mulholland abriu a reunião do Consuni, na sexta-feira, 15 de junho, com informações sobre a questão que envolve o repasse de recursos para o Hospital Universitário. Ele disse que há uma proposta em discussão, no governo federal, de transformar os HUs em fundações. “A Andifes não gosta da idéia, mas não há solução sobre o financiamento”, observou. O reitor explicou que nos recursos de custeio da universidade, metade vai para o HUB e a outra metade para toda a UnB. Mulholland disse que foram feitas reformas hidráulica e dos elevadores do hospital.

Além do HU, o reitor aponta o RU como outra despesa pesada para a universidade. Ele disse que o assunto será levado ao CAD ainda este ano, o que gerou questionamento do representante do DCE no Consuni. A reitoria investiu, no ano passado, R$ 7 milhões em subsídio ao restaurante universitário. O custo da refeição, segundo os cálculos apresentados, é R$ 10,73 e o RU cobra R$ 2,50 de alunos e servidores, R$ 5,00 de convidados, e R$ 0,50 e R$ 1,00 de alunos de baixa renda. “Nossa avaliação é que isto é insustentável para a UnB. Estamos subsidiando milhares de refeições”, justificou o reitor, que quer urgência do CAD na apresentação de alternativas.

Também vai ao CAD a discussão da folha de pagamentos dos funcionários terceirizados, que custavam R$ 2 milhões/mês há dois anos e que hoje, segundo o reitor, está na casa dos R$ 4 milhões/mês.

Apoio à greve

A reunião também aprovou a elaboração de um documento de apoio a uma solução rápida para a greve dos servidores das universidades federais.

Autonomia para contratar professores

O reitor apresentou, ainda, informações sobre a proposta em discussão no MEC que pode aumentar a autonomia das universidades públicas na contratação de professores. A proposta prevê que a universidade possa repor pessoal e gerir a contratação de professores substitutos e do quadro.

Pela proposição do MEC, que consta da portaria do PAC da Educação, haverá o cálculo de professor equivalente (ao número de horas/aula) que cada universidade poderá gerenciar. Neste caso, seria feito o quadro de cada instituição com a quantidade de professor equivalente no dia 30 do mês de abril deste ano. Este valor é calculado a partir dos seguintes valores: professor 20 horas (0,5); 40 horas (1); dedicação exclusiva (1,55); substituto (1). Por este cálculo, os 1.473 professores da UnB representam o equivalente a 2.468.

O reitor acredita que o processo de negociação entre a Andifes e o MEC deve durar mais alguns meses. Os reitores querem condições de trabalhar na auto-gestão. A discussão, no MEC, tem sido acompanhada por representantes do ministério do Planejamento, o que foi considerado positivo, pelo reitor.

Dinheiro para as Federais

Os recursos para as Universidades Federais, também segundo relato do reitor no Consuni, cresceram 50% no governo Lula. Passaram de R$ 6 bi no primeiro governo, para R$ 9 bi agora, além da previsão de mais R$ 2 bilhões pelo PAC da educação. Segundo o reitor, ainda falta definição de diretrizes para que as universidades possam receber recursos, quanto crescer e que resultados são esperados.

Professores para as Federais

O reitor informou que serão liberadas 2 mil vagas para contratação de professores nas universidades públicas neste ano - 800 de reposição e 1.200 para a expansão dos campi universitários - e outras 2,5 mil vagas no próximo ano.

Universidade Aberta

Depois dos informes, foram apresentados os relatores apresentaram os pareceres, para deliberação do Conselho, de processos vindos de várias unidades.

Foi aprovada a criação de 5 cursos de Licenciatura, na modalidade de ensino à Distância, três deles apresentados pelo IdA (Instituto de Artes). A discussão sobre a qualidade do ensino à distância em contraposição ao modelo presencial foi longa, mas os responsáveis pelas propostas foram convincentes.

A Universidade Aberta foi criada pelo MEC e prevê a criação de 60 mil vagas em todo o país, por meio de projetos desenvolvidos por universidades que se candidataram a recursos. O Ministério destinou, este ano, R$ 70 milhões para esta modalidade de ensino.

Os cursos, que têm como base o ensino semipresencial desenvolvido por Cuba, são oferecidos em regiões em que as universidades locais não têm como atuar. Os governos locais criaram pólos com infra-estrutura de ensino, como biblioteca, laboratório de informática e vídeo-conferência.

Os alunos são acompanhados nos pólos de aula por tutores, que são professores selecionados de forma muito semelhante ao professor substituto.

Cursos aprovados:

Licenciatura em Letras – com 360 vagas, tem por objetivo formar professores para atuar nas séries finais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio. O curso será oferecido para os municípios goianos de Alto Paraíso e Alexânia.

Licenciatura em Educação Física – 200 vagas distribuídas em quatro pólos. O objetivo do curso é dar formação a professores que já atuam nas escolas, mas que ainda não se formaram, e melhorar a qualidade do ensino da educação física. Realizado em parceria com a Universidade Federal de Goiás, vai atender alunos em Roraima, Amapá e DF.

Licenciatura em Música – 120 vagas para oito pólos do estado do Acre. O curso não é voltado para a formação de artistas, mas de professores de música.

Licenciatura em Teatro – 220 vagas para os mesmos pólos de Música. Também não é voltado para a formação de artistas.

Licenciatura em Artes Visuais – 260 vagas – oito pólos no estado do Acre e dois em São Paulo.

Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações

Foi aprovada a criação do CCOM que trata de forma multidisciplinar das questões que envolvem políticas, direito, economia e tecnologias das comunicações. O Centro nasce a partir do GCOM, um grupo que reúne acadêmicos e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento e que em seis anos de existência realizou três cursos internacionais, seis de especialização, oito de extensão, duas conferências nacionais e uma internacional, além de 14 pesquisas avançadas em telecomunicações.

Pós-graduação em Ciências do Comportamento

Com recomendação da Capes, para ser criado com conceito 5, o curso de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento, do Instituto de Psicologia, foi aprovado pelo Consuni. O programa prevê mestrado e doutorado.